A cirurgia é o tratamento de escolha para o câncer de tireoide e a dose terapêutica de iodo – 131 está indicada para casos selecionados. De acordo com as recomendações da American Thyroid Association (ATA) de 2015, os pacientes com câncer de tireoide papilar ou folicular de risco intermediário selecionados e os pacientes de alto risco requerem tratamento complementar com dose terapêutica de iodo 131 (radioiodo) após a tireoidectomia porque os estudos mostram benefícios nesta população, já os pacientes com câncer de tireoide papilar ou folicular de baixo risco e alguns pacientes de risco intermediário não requerem ablação com radioiodo após a cirurgia porque, além de não obter benefícios, serão expostos desnecessariamente aos efeitos colaterais do radioiodo que variam desde comprometimento da produção de saliva pelas glândulas salivares até o risco de desenvolvimento de um segundo tumor. As orientações da ATA de 2015 se baseiam em estudos realizados nas décadas de 1990 e 2000, e para evitar o uso desnecessário da Dose Terapêutica de Iodo 131, a decisão do tratamento complementar vai depender da classificação de risco do câncer de tireoide que pode ser: baixo risco, risco intermediário e alto risco.
Veja a classificação de risco descrita abaixo:
— CÂNCER DE TIREOIDE DE BAIXO RISCO:
Câncer papilar de tireoide com todas as características abaixo:
. sem metástase local ou à distância
. ressecção completa do tumor
. sem invasão tumoral das estruturas cervicais
. sem histologia agressiva (ex: células altas, variante hobnail, carcinoma de células colunares)
. se iodo 131 é dado, ausência de foco metastático ávido por radioiodo fora do leito tireoidiano na 1ª cintilografia de corpo inteiro após Dose Terapêutica de Iodo 131
. nenhuma invasão vascular
. N0 clínico ou ≤ 5 micrometástases (< 0,2 cm na maior dimensão)
Variante folicular encapsulada intratireoide do câncer papilar de tireoide
Câncer folicular de tireoide bem diferenciado, intratireoide com invasão capsular e < 4 focos de invasão vascular
Microcarcinoma papilar, intratireoide, unifocal ou multifocal incluindo mutação BRAF (se conhecida)
— CÂNCER DE TIREOIDE DE RISCO INTERMEDIÁRIO
Invasão microscópica do tumor em tecidos moles próximos à tireoide
Foco metastático ávido por radioiodo no pescoço na 1ª cintilografia de corpo inteiro pós- Dose Terapêutica de Iodo 131
Histologia agressiva como exemplo: células altas, variante hobnail, carcinoma de células colunares
Câncer papilar de tireoide com invasão vascular
N1 clínico ou > 5 N1 patológicos com todos os linfonodos envolvidos < 3 cm na maior dimensão
Microcarcinoma papilar multifocal com mutação ETE e BRAF (se conhecida)
— CÂNCER DE TIREOIDE DE ALTO RISCO
Invasão macroscópica do tumor em tecidos peritireoidianos
Ressecção tumoral incompleta
Metástases à distância
Tireoglobulina sérica no pós – operatório sugestiva de metástases à distância
N1 patológico com linfonodo metastático ≥ 3 cm na maior dimensão
Câncer folicular de tireoide com invasão vascular extensa (> 4 focos de invasão vascular)
O uso da classificação de risco e a informação compartilhada com os pacientes auxilia na tomada de decisão. Converse com o endocrinologista, isto permite a escolha mais acertada do tratamento.
Acesse o link abaixo e obtenha mais informações sobre os cuidados no tratamento do câncer diferenciado de tireoide.
2015 American Thyroid Association Management Guidelines for Adult Patients with Thyroid Nodules and Differentiated Thyroid Cancer: The American Thyroid Association Guidelines Task Force on Thyroid Nodules and Differentiated Thyroid Cancer
Haugen, Alexander, et al., Thyroid. Jan 2016, 26(1): 1-133.
Dra. Maria de Fátima de Magalhães Gonzaga
Endocrinologista, com título de especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília. Especialista em Clínica Médica, com experiência na área de Medicina Interna. Atualmente, é responsável pelo ambulatório de diabetes mellitus e pelo ambulatório de endocrinologia geral do Hospital Universitário da Universidade de Brasília. Atua como preceptora de ensino e coordenadora da Residência Médica em Endocrinologia e Metabologia na mesma instituição.